Havia um tempo que ter uma bicicleta era sonho de consumo de qualquer menino.
Hoje em dia com a monstruosidade da cidade, do trânsito, da violência, acho que este sonho perdeu bastante espaço no imaginário da geração digital.
Mas voltando aos anos 80, não falo de qualquer bicicleta, e tão pouco dessas sofisticadérrimas que a galera usa para praticar esporte, seja trilha, velocidade, estrada, elas custam muitas vezes um carro, ou mais. Que aliás andam sendo alvo de quadrilhas especializadas, principalmente na USP.
Eu estou falando da bicicross, esta bike que até hoje encanta a molecada, em corridas, campeonatos, circuitos, mas naquela época era a bike dos meninos, o sonho de todos.
Aquela bicicleta esportiva, preparada para dar uns pulos e ganhar certa velocidade, que os meninos da minha infância pediam de Natal, aniversário ou até mesmo dia das crianças, mas com poucas chances, afinal, eram outros tempos e bicicleta estava na lista dos objetos de luxo.
Encontrei pelas redes sociais um amigo daquela época, e lembrei até o nome do modelo dos sonhos; Extra Light. Ele e outros amigos adoravam a tal bike e andavam em turma pelas ruas do bairro, nas redondezas da escola e das casas dos amigos, inclusive a minha.
O medo da época era ser atropelado ou roubado como hoje, mas nem havia estatísticas sobre isso, era um medo distante, remoto.
Todos viviam de joelhos e cotovelos ralados, talvez um dente lascado. Nem por isso eles andavam como múmias protegidas, com protetores de tudo. A coisa só ficava mais séria sem fosse uma pista de bicicross, aí usavam proteção, mas o básico.
Nas ruas era pura diversão.
Nem de longe as ciclofaixas de hoje trazem este prazer de descer uma ladeira, pular um obstáculo, correr. O objetivo era diversão e não condicionamento físico, ele era decorrente. Ninguém ficava muito tempo dentro de casa, na frente da TV.
A gente queria rua. Mãe da rua, barra manteiga, futebol, esconde-esconde, vôlei, taco. Não importava o quê, mas com quem, juntos. Diga-se de passagem, eu sempre moleca, não tinha muita paciência para coisas de menina e fantasias. Tinha lá minhas coisas, bonecas, Susi, panelas; mas, preferia brincar de “As Panteras”, pega-ladrão, bicicleta e brincadeiras de rua mesmo.
Outros tempos, outra infância, com seus prós e contras.
Mas o fato é que tive uma infância feliz.
Saudades dos amigos, das bikes, das brincadeiras.